Em O rosto de Deus, Roger Scruton mostra-nos como a essência do que somos se constitui pela referencialidade. A própria liberdade encontra as suas condições de possibilidade no estabelecimento das redes de relações interpessoais, implicando um “Eu” que supõe um “Tu”, como base da identidade. Não somos, portanto, sem o “Outro” que nos permite o acesso ao nosso próprio rosto, fazendo com que o mundo seja sempre o da circunstancialidade. É o rosto do “Outro” que possibilita o meu próprio rosto e que assim estabelece a ética. É deste modo que, como realça Scruton, “pertencemos aonde estamos e pertencemos como uma comunidade”. Em consequência, somos um ser intrinsecamente transcendental: somos pelo “Outro” e, sobretudo, com ele…
Roger Scruton, O rosto de Deus [Edições 70, 2023].
Pedro Pereira
Imagem: Fernand Pelez, Sans asile [1883].